Sandra Modesto é mineira de Ituiutaba, graduada em Letras e pós-graduada em Educação. Também autora dos livros Acenda a luzTudo em mim é prosa e rima, Era sábado , Sonhos e perdas & outros contos. Tem textos publicados em diversas antologias. Foi finalista do concurso Micro Conto de Ouro 2022. Acredita no fazer literário. É movida a desafios. Ama o passar do tempo.

O TEMPO DA GENTE

 

Este livro é marcado por uma coragem que desafia o leitor, conduzindo-o pelos caminhos da inquietude e do desbravamento poético em busca do eu-mulher. A irreverência dos versos — ora soltos, ora entrelaçados — revela-se como uma lente que atravessa o tempo. Entre o imaginário e o real, emerge a perspicácia da autora, que transforma questionamentos e temas vigorosos em um convite instigante à leitura.

 

É IMPOSSÍVEL PASSAR IMPUNE POR ESTES VERSOS
por José Carlos Cunha Muniz Filho

 

Até onde um texto pode nos levar ao desafiar e expor pensamentos que relutamos em formular? O quanto de nós pode ser transformado pela reinterpretação de questões profundas que, embora ignoradas, seguem nos observando nos objetos e passagens do cotidiano? A poesia de Sandra Modesto parte exatamente deste lugar: a fresta entre o que se vive e o que se sente.

 

Há mais de um século, um escritor russo nos advertiu que nada é mais universal que a nossa aldeia. Sandra consagra essa ideia de forma brilhante e singular. Seus versos revelam um modo de ser e estar no mundo que transcende o ordinário, propondo uma verdadeira arqueologia do ser por meio das circunstâncias — o café que se torna poema, a memória que pesa no corpo, o tempo que se enrosca nos dedos.

 

Sem negar as vicissitudes da vida, e de forma ousada e consciente dos processos que a constituem, Sandra edifica em seus textos uma compreensão aguçada de temas que nos atravessam. Ela expõe inquietações sobre o amor, a passagem do tempo e a solidão que dificilmente caberiam em sentenças acabadas. É uma escrita que não teme a própria vulnerabilidade; ao contrário, é nela que encontra sua força, a fortaleza dessa gente que ri quando deve chorar e transforma tudo isso na arte de viver.

 

Jean-Luc Godard, em Je vous salue, Sarajevo, nos fala sobre a regra e a exceção. A regra é facilmente produzida, mas a exceção é o que há de imponderável, aquilo que reconhecemos nas grandes obras. É sem dúvida neste campo que a poesia de Sandra Modesto se insere.

 

Em um tempo que, de fato, não é o “da delicadeza”, a autora conjuga sua vivência para emoldurar o que parece — em suas próprias palavras — um resto, mas que na verdade revela um todo. Contrastando com as diversas tentativas de negar a sensibilidade, este livro é, antes de tudo, um ato de existência: uma recusa ao silêncio, sem jamais cair no lugar-comum de obras meramente panfletárias.

 

Por fim, deixo uma advertência ao leitor e a leitora que tem nesta obra seu primeiro contato com a produção de Sandra Modesto: é impossível passar impune por estes versos. Sua escrita produz marcas indeléveis que ecoarão em você, transformando até as experiências mais corriqueiras. Por meio de sua obra, a realidade se torna mais viva e, como a própria alma da poeta, visceralmente transcendente.