Nathan Sousa (Teresina, 1973) é tecnólogo em Marketing, professor,
ficcionista, poeta, letrista e dramaturgo. É autor de 15 livros e de uma peça teatral. Venceu por 10 vezes os prêmios da União Brasileira de Escritores, o Prêmio Cidade de Manaus 2021 (livro de poesia) e o Troféu de Melhor Autor Piauiense de Teatro 2022. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2015 e do I Prémio Internacional de Poesia António Salvado. Faz parte da equipe do Projeto Pré-Enem da SEDUC-PI.

 

O SANTUÁRIO DAS MUSAS ESQUECIDAS

 

O santuário das musas esquecidas, livro do premiado autor piauiense Nathan Sousa, é composto de vinte e dois poemas, divididos em duas seções: 'O beijo lançado na outra margem' e 'Negra humanidade'. Trata-se de um trajeto poético de exaltação do “eu” feminino, trazendo à baila o lado obscuro da existência, simbolizado pelas musas que vivem (ou viveram) à margem da história. Ainda assim, essas divas resistem nos confins da alma, feito “um pássaro/que não estranha o assovio”.

 

Por Airton Souza

 

COMO DESDOBRAR MUNDOS EM NÓS


O romancista senegalês Mahamed Mbougar Sarr inicia a sua obra monumental A mais recôndita memória dos homens, escrevendo que “quanto mais se descobre um fragmento do mundo, mais evidente nos parece a imensidão do desconhecido”. E é exatamente desse trecho que podemos pensar, em parte, o que significa a elaboração poética que vem sendo criada por Nathan Sousa. Partindo de elementos como: o mundo, nós e as palavras, descortinando visões que jamais se dissiparão. 


Um dos grandes exemplos disso está nesse O santuário das musas esquecidas, em que o poeta Nathan Sousa desdobra-se. Multiplica-se. As visões plurais que temos, a cada poema, é que tudo se espraia: as geografias, os sentimentos e as coisas. Há nesse livro o mergulho mais profundo do poeta que sabe que é necessário desfazer as “mantas bordadas/à mão e ao sonho, contagiado/pela placidez do vento”.


A poética de Nathan Sousa não é sobre como devanear o mundo ou puramente tentar utopiza-lo, mas é como quem tem a tarefa de partir das realidades circundantes para reelaborar outras respostas possíveis visando abranger aquilo que Drummond denominou de sentimento do mundo. O jogo de linguagem de Nathan parece estar sempre frente a frente com a compreensão mais íntima da vida. Ora inefável ora vocacionada a tornar mais nítidas as coisas, nós e o mundo. Por isso a sensação que temos é a de que, com a sua força vocabular, o poeta faz-nos aprender a ninar abismos para que, somente assim, possamos nos reencontrar com nós mesmos.